quinta-feira, 6 de setembro de 2012

diário da entranha costurada


dias homogêneos. sentimentos nulos.

da hora que o despertador tocava até a hora, bendita, que a cama lhe acolhia pesado e sem fé. o ciclo rodava - alarme era reprogramado, os olhos fechados e noite de pesadelos e sonhos desconexos apontavam: era um nada. ponto sem brilho. ferida aberta, zanzando pelo mundo.

dentro de si, um mundo pululante de vontade de existir. até que tinha um quê diferente, era o que lhe falavam. houve um tempo que chegou a gerar risos e luz na sala.  brilho cruelmente apagado com apenas um som: o medo de perder.

não, sofrer não era permitido. não para uma pessoa ridiculamente engraçada, alegre e besta. desses bestas que a gente senta perto, sente calor e nunca mais quer largar. até que a besta chore e, daí, vire monstro.

e quem é que quer monstro perto? ele mesmo não queria. sempre que tomado por algum comportamento desse sabia que perderia. amigos, colegas, vizinhos e a moça da padaria escorrendo pelo ralo. o mundo hoje não permite pesos, realidades e incerteza.

e sempre que chegava perto de seu poço,  um frio corria na espinha e injetava em si uma mescla de medo e certeza de que isso poderia definitivamente acabar algo que nunca chegou a concretizar. não, não era esplendorosamente feliz ou milimetricamente equilibrado.

um dia na varanda, costurou a boca, alfinetou os olhos às sombracelhas e seu sorriso foi mantido estático e aparente.  mas, em tempos de mudança de clima,  tufões e tsunamis ainda parecem um belo convite ao pulo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

flores astrais


eu acho que sou maior que a vida. que a domino e que faço escolhas, completamente minhas, que direcionam meu destino neste mundo. mas tudo isso um dia vai ter fim e a vida, sem uma segunda chance, vai me levar. na hora que ela quiser e de um jeito que não poderei fugir, argumentar ou escolher. não quero que isso aconteça num susto. quero viver esse drama todo que ela me deu, achar um bocadinho de tranquilidade e me esgotar em amor. só assim vou poder me entregar a terra e nutrir vermes, me converter em adubo e virar história ou uma vaga lembrança por aí. vida, por favor, não me faça querer negociar isto. quero você e acho que podemos nos dar bem. aos que foram, hoje meu pequeno e solitário coração emana um pouquinho de amor torcendo para que vocês possam se alegrar e alimentar belas flores pelo mundo.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Chiquita bacana

Uma sessão inteira de filme, daqueles que falam de amor, política, judeus, argelinos e mais política. e facistas. e os certinhos de direita. coisas que todo mundo sabe ou se interessa. mas, sabe, não se interessava. e saía de mais um filme com a sensação de ser uma pessoa burra, quadrada e que não entende muito de vida ou de amor ou de política. que se fodam os fascistas e os de direita e os seres politizados deste mundo. pessoa burra sim, mas não por falta de esforços. passava dias, horas e minutos tentando entender sua pequena existência mas agora tudo que lhe irritava era o bando de crianças felizes e natalinas no caminho de casa. crianças que gritavam, embaixo dos braços de seus pais com suas máquinas cheias de flashes e bocas cheias de sorrisos. ela, ali, passando com sua bolsa verde e sua camiseta de bailarinas. uma chiquita bacana frustrada. densa. podre como uma manga que nunca caiu do galho. no som, um sussurro melancólico. no peito, escondido lá no fundo do zumbi zanzado pela avenida iluminada, uma vontade que alguém lhe puxasse do seu túmulo, lhe desse um pouquinho de carinho e lhe trouxesse de volta à vida.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

boi da cara preta

não queria mesmo que encaretasse. logo ele, que tinha sido tão divertido e livre, parecia agora levar uma vida que ainda não o pertencia. não precisava daquilo e nem mesmo se sentia confortável. queria seus amigos bem próximos e um monte de situações novas ou, no mínimo, divertidas. mas não ia mais por aí. a monotonia da cidade contribuía, a semana e o cotidiano pesados também.

a idade ainda não podia ser um fator de peso. por deus, não podia mesmo. não é possível que a juventude acabasse assim, dando lugar a uma carranca assustad(or)a, que dali pra frente só viria a enrugar.

e sentia raiva e sentia dor. e tinha muito medo que isso virasse um monodiscurso em sua vida. e o menino, que teme e não quer envelhecer antes do tempo, decidiu não se entregar. ou se convencer disso. ou ao menos encarrancar, sem perder a alegria (ui, que clichê!).

quinta-feira, 4 de junho de 2009

um chorar mais sem fim

a dor mais dolorida foi viver sem existir.

de repente, o que um dia existiu se esvaiu, sumiu no ar. e ao mesmo tempo tudo se tornou bastante normal. só precisava saber se posicionar e, mesmo que isso não fizesse bem, era o melhor a se fazer. os dias passaram aprisionados, dentro dele, e libertar o que ainda existe ali talvez seja o maior desafio até então.


e foi ficando assim, normal. mas como nunca se deu com normalidade, foi ter com a inconformidade e queira deus isso o alimente!

sábado, 21 de março de 2009

Firme e relaxado


Disciplina não é rigidez e rigidez não é disciplina.






Agora explica isso pra minha mente algoz que exige cotidianamente que eu seja mais produtivo, mais bonito, mais magro, mais moderno, menos louco, menos preguiçoso... Ai, acho que todo esse blá blá blázinho não já não cola mais.

domingo, 15 de março de 2009

Up to date

O tempo passa, a vida muda, o corpo muda e muito natural (e loucamente!) a cabeça muda. Eu gosto muito de vários desses movimentos, é uma delícia se perceber amadurecendo, ver coisas por outros ângulos que antes pareciam impossíveis, descobrir gostos diferentes, se fazer percebido e ouvido e tantas outras coisas. Mas nem tudo é tão agradável assim e outras mudanças as vezes me parecem bem esquisitas. O humor varia de um jeito um tanto quanto diferente de antes, os horários já não variam tanto e agora são rígidos e bem amarrados e o cotidiano repetitivo chega a ameaçar minha leve geminianice. Fato: a nostalgia tomou conta de mim e trouxe junto o luto por um monte de coisas boas que já foram. E essa vai sendo a vida, que me esbarranca mas trata também de me levantar.