dias homogêneos. sentimentos nulos.
da hora que o despertador tocava até a hora, bendita, que a cama lhe acolhia pesado e sem fé. o ciclo rodava - alarme era reprogramado, os olhos fechados e noite de pesadelos e sonhos desconexos apontavam: era um nada. ponto sem brilho. ferida aberta, zanzando pelo mundo.
dentro de si, um mundo pululante de vontade de existir. até que tinha um quê diferente, era o que lhe falavam. houve um tempo que chegou a gerar risos e luz na sala. brilho cruelmente apagado com apenas um som: o medo de perder.
não, sofrer não era permitido. não para uma pessoa ridiculamente engraçada, alegre e besta. desses bestas que a gente senta perto, sente calor e nunca mais quer largar. até que a besta chore e, daí, vire monstro.
e quem é que quer monstro perto? ele mesmo não queria. sempre que tomado por algum comportamento desse sabia que perderia. amigos, colegas, vizinhos e a moça da padaria escorrendo pelo ralo. o mundo hoje não permite pesos, realidades e incerteza.
e sempre que chegava perto de seu poço, um frio corria na espinha e injetava em si uma mescla de medo e certeza de que isso poderia definitivamente acabar algo que nunca chegou a concretizar. não, não era esplendorosamente feliz ou milimetricamente equilibrado.
um dia na varanda, costurou a boca, alfinetou os olhos às sombracelhas e seu sorriso foi mantido estático e aparente. mas, em tempos de mudança de clima, tufões e tsunamis ainda parecem um belo convite ao pulo.