sábado, 13 de dezembro de 2008

Língua de trapo

Sumiu dali mas não sumiu dele, definitivamente. Ele existia ali mas achava a vida um tanto mais corrida e um tanto mais sonolenta. E foi sentindo que tava parando de sentir, como se estivesse sob o efeito de uma boa dose de anestésico, daquelas que te deixa voando sem paradeiro. Num desses vôos deve ter perdido a língua por qualquer esquina aí, parece que aconteceu sem dor e sem apego. Quando viu, som nenhum saía daquela boca. Achou melhor calá-la, porque de boca aberta e anestesiada só sai baba.

Ainda anda por aí, catando os trapos perdidos pra botar a boca no mundo e falar do seu bloco, que continua na rua.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Não

Como dói uma expectativa quase concreta que dá errado. Primeiro a gente se sente em frangalhos, e imagina todos aqueles planinhos que pareciam tão próximos (e tinham uma carinha tão bonitinha) se estatelando no chão. Depois é a vez da voz falhar e do olho começar a marejar, mas não é permitido chorar ali, daquele jeito. Então eu corro e escrevo (o que já virou clichê por tantos cantos) pra usar uma das vozes que ainda me restam.

Mas um pouquinho do engasgo fica aqui.

E tomara que eu tenha colhão pra ir pra frente!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Heatwave

Amanheci febril e com a garganta sofrendo. Mas isso não é sinônimo de leseira o dia inteiro e abandono no colchão. Um banho frio ainda me aguarda e nada melhor do que se alegrar um pouquinho pra enfrentar os arrepios. Eu escolhi Martha & The Vandellas pra animar minha manhã. Gosto das meninas desde que as ouvi num CD comemorativo do Motown e acabei de encontrá-las no youtube.

Aqui, a música que ouvi no cd do motown.


Alguns anos depois, com uma galere dançando e a força na peruca ditando o ritmo.



segunda-feira, 21 de julho de 2008

Alegria, Alegria

Tem algumas (poucas) pessoas que fazem parte de mim e isso é (quase) uma experiência celular. Elas chegam e ficam sem fazer força e sem dificuldade. É com elas que tenho vontade de sentar e rir por horas, de encontrar um novo achado e sair correndo pra contar, de ligar só pra perguntar se está tudo bem. São do mundo e nele, são minhas. Alegria cotidiana saber disso. Partes de mim.

Parceiros de crime.

Pedras preciosas.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Aba!

Acho que toda vida olhada de perto tem um quê de maluco. A minha não foge a essa regra e mesmo me colocando em tour constante em montanhas-russas (com direito a loopings e adrenalina forte), a danada arrumou um jeito de me amansar. Pelo menos parte de mim. Logo eu que jurava que ia ser uma porta pra sempre (investia nisso arduamente) tenho aprendido a amar. E há exatos onze meses tenho estado mais feliz e colorido. A vida não virou do avesso e eu não casei e tive onze filhos, nem virei uma pessoa super alegre que ri pras paredes (mas isso acontece as vezes!). O que acontece na verdade é que ando bem acalentado e aconchegado. No mesmo embalo de Audrey cantando aqui embaixo!

terça-feira, 6 de maio de 2008

Despreparado pra queda

E o mês de maio vem chegando de mansinho e no horizonte já começa a aparecer uma pontinha do meu inferno astral. Acho que já sabia que ele junto com uma queda recente não seriam fáceis, mas mostrar toda minha falta de fé é muito hard! Essa coisa de vida adulta, de realização e muitos outros blábláblás tem me enchido o saco como nunca e minha raiva, antiga aliada que me fazia sair por aí gritando e cuspindo, agora só me faz chorar. Tenho andado frágil, com caco pra todo lado, mas verdadeiro pra caramba. Ô ciranda da minha vida!

terça-feira, 8 de abril de 2008

I've got Nina!

Meu tempo agora é de não ter quase nada, ando mesmo sem lenço nem documento. E pra me confortar tenho visto repetidamente Nina Simone cantando uma versão de "Ain't got no...i've got life", canção do musical setentinha Hair (setentinha é velho mesmo, ?). O vozeirão de Nina e sua rebeldia incontida me alegram profundamente. Thank God I've got Nina!


domingo, 6 de abril de 2008

Casa na laje

A minha vida andarilha me joga pra onde quer e só me resta mesmo viver o que ela me reserva. Sempre foi assim, mudanças e mudanças que me reviram do avesso e me fazem descobrir poucas das milhões de coisas que existem nesse mundo que não se acaba. O último grande presente foram quase dois anos morando no primeiro apartamento fora da casa dos pais num pequeno vôo para fora do ninho. Todos esses dias foram de fortes experimentações de Iran: o Iran que dá conta, o Iran que limpa, o Iran que se irrita, o que ama, o por si, o que se alegra fácil, o que tem amigos, dança sozinho e viaja na sua cabeça e tantos outros. Foram vários sorrisos, abraços, beijos, festas, chororôs, estranhamentos, irritações e vitórias, tudo sempre muito bem acompanhado. E com isso tenho certeza que tenho mais um dos portos seguros que construí na minha vida. São amigos e lembranças de fibra. E agora, quando caem as fichas de que as únicas coisas concretas que tenho são roupas, livros e cds, uma ventania forte é anunciada. Minhas asas estão aqui, um tanto quanto mais fortes e agradecidas a vida, e é chegada a hora de voar. Sou nômade. Nômades não podem parar.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Bye Bye Baby!

Algumas coisas, depois de perdidas, (quase) nunca podem ser recuperadas.

Outras tantas nunca vieram a existir por causa disso. E assim vai se formando a roda viva: você é criança e demanda uma atenção que não lhe é muito dirigida, a figura paternal é um daqueles pequenos bibelôs que não chegam a servir pra muita coisa e, além disso, dentro daquele pequenino ser já existe uma alma, um tanto rebelde e autêntica. Pronto, passado algum tempo o cenário perfeito para fortes choques de opinião e rompimentos (sucessivos) de vínculos é (inevitavelmente) montado. E o bibelô fica ali empoeirando e deus sabe quando será limpo. Será que isso tem prazo de validade?

segunda-feira, 17 de março de 2008

Face it

Depois de um filminho leve que bateu em mim feito ventania, percebi que minha nudez e minha crueza inteiras, mesmo que raras, fazem muito bem ao meu mundo. Meu menino sonhador, minha velha coroca, meu jovem neurótico e tantos outros são todos partes de mim e se mostram quando eu quero ou quando tenho capacidade de segurá-los. Todos tão diferentes são ao mesmo tempo fios importantíssimos da minha teia. E quando bato os olhos no espelho e consigo vê-los ali, juntos, é que me dou conta do Iran que sou porque dou conta assim e porque aprendi a ser assim.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Insônia

Na cama, você se sente uma manjubinha sendo frita em chapa quente. É quando o chá de camomila parece ser o antídoto infalível pra insônia. Já munido do chá, uma boa pedida é uma leitura interessante para acompanhar.





O pulo do leito é inevitável e às quatro e pouca da manhã o espelho deixa claro olhos esbugalhados e sem sinal de sono algum. Na televisão passam desde filmes de uma macaquinha psicopata e a velha Ilha do Dr. Moreau à uma entrevista com a entidade conhecida popularmente como Dercy Gonçalves (e a mesma velha história de que a danada já construíu o seu túmulo e vai morrer lindapoderosavitaminada. Lenda!). Ná... Na internet a perambulação viaja desde blogs pessoais, notícias interessantes e notícias daquele reality showzinho de cada dia à sites preferidíssimos de receitinhas (quem sabe um cuscuz paulista pra amanhã?). E necessito mais do que nunca voltar ao fuso horário dessa Brasília!

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Posição

She tried to make me a "mãezinha de marmanjo" and i said no, no, no!

Na foto, Dona Winehouse. Simples assim.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Maré do mundo

Sabe essa história de querer mandar no próprio destino, mas eis que chega roda viva... Pois é! Daí você descobre que é um ser humano e como um comporta quase tudo dentro de si. O que incluiu raiva bruta, falta de fé, ataques de pati e comportamentos infantis em uma idade já pouco adequada. Enquanto ser já terapizado que tenta ficar muito bem obrigado (mesmo que isso inclua ir ao fundo do poço pra se levantar), você coloca a massa cinzenta pra funcionar, o coração pra se abrir e os questionamentos para te fazerem crescer. Eu sento a bunda e escrevo para ver se o turbilhão que passa na minha cabeça toma uma forma pálpavel. E a decisão é clara: se na hora que você achava que já se conhecia o suficiente seja necessário perder o controle em meio a essa roda viva (again, and again and again) e se mostrar suscetível (à vida), aproveite a viagem. Chore, cante, ame e claro, seja digno.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Dia dois de fevereiro

E hoje é o dia dela. A mãe das filhas mais maternais.
Salve a fina flor do mar.
Odó yá Yemanjá!
Axé!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Hola! Que tal?

A festa dos mortos mexicana é uma coisa que sempre achei linda. É pura alegria ver famílias inteiras completamente coloridas que acreditam ter de volta, neste dia, os espíritos de seus entes queridos que voltam para dançar e se alegrar. Aposto que lá nem chove no dia.

Okay, postagem fora de propósito, escrita somente para estampar aqui a "lady caveira" que eu acho muito simpática. Mesmo assim, acho a fiesta de los muertos sensacional.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Express yourself

As postagens demoram e ficam tempos no forno e na cuca. Sempre quero escrever buscando uma causa nobre, um sofrimento digno, uma musa de inspiração ou uma eureka recém-descoberta. As idéias fervilham e sublimam no ar. Em meio a tudo isso sou muito feito de cotidiano e acostumado que estou, as inspirações ditas passam batidas. Mas a língua solta, a cabeça fervilhante, meu olhar e a criatividade não pararão por aqui. Teje dito!

Foto de Madonna no tempo que o "express yourself" dela chegava a explodir (e toda vez que eu vejo essa foto, juro que ela vai saltar pra fora. Se joga Madgie!).

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Abandono

Tava olhando o que rola por aqui e vi que a cozinha ocupa muito pouco espaço no blog.

Essa coisa, que ocupa grande parte de mim e de minha criatividade, também tem aparecido pouco no meu cotidiano. Porquê cozinhar o básico todo dia não é lá muito agradável. Mas já a gente faz as pazes.

Super Ofélia, ativar!

Eparrê Oiá!

Dezessete dias de mais um ano novo (que aos poucos já vêm se tornando usual) e já estou em meio a dúvidas, escolhas, atalhos, impulsos e trovoadas. Um começo que já era de se esperar para um bom ano regido por Iansã. A rainha da tempestade traz consigo uma boa dose de descarrego e batalha, daqueles que a gente treme, pula, salta, grita, arrepia e ainda arranca um pouco dos cabelos mas, no final, nos deixa fortes, sadios e um pouco mais crescidos. Em meio a tudo isso, entrego currículos ali, ando de um lado pro outro e ainda patino pra ver se perco um monte de kilos indesejados e recém-adquiridos. E estamos apenas começando o ano. Espero, mesmo, contar com a audácia, ousadia e sabedoria necessárias pra no fim do ano plagiar Bethânia e gritar que O Raio de Iansã Sou Eu. Brilhei! Eparrê Minha Mãe!

Axé pra todo mundo em 2008!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Exumação

Tem um montão de coisas que eu adoro: o velho e bom samba, as vozes das coristas de fundo e a sensação boa que elas provocam, escrever um texto e ao lê-lo perceber que ele diz mesmo o que eu queria, quando minha letra fica bonita, o molejo tomando conta do meu corpo diante de um samba, os estalos repentinos que deixam minha cabeça a pino e cheia de criatividade, lembranças boas, ficar aconchegado a noite inteira com meu bem, meu bem, meus amigos aqui dentro do meu peito, visitas da minha mãe, seu jeito de menina e os bons genes que ela me passou, graça nas suas várias formas e desencavar o tanto de coisa (boa) que aparecem em mim.