Ficar na frente do espelho, sentado naquela poltrona gostosa, tem me tomado dias inteiros. Lá, silenciosamente, fico a vontade para desfazer minhas tranças há tanto adquiridas. Observo-me inteiro, vejo todos meus sinais: aqueles das quedas de menino, os de quando me queimei de carvão em brasa viva de vermelho intenso, a pinta atrás do braço esquerdo e aquela outra no pescoço. Minhas pequenas entradas já me mostram sinais de idade e de certa experiência, minhas pernas me lembram de meu pai e minha mãe. Olhando mais fundo, algumas vezes me surpreendo com um susto que estremece minhas entranhas mais profundas e enche a boca de uma saliva com gosto metálico, em outras sorrio só, lembrando dos vários eus que já fui e consigo observar ali, em mim. E ficando assim, silencioso, vou aprendendo a me despir e ficar de peitos à mostra e abertos, para mim e para o mundo.
Foto de Friducha (Kahlo).
Um comentário:
Que lindo, Iran!!
Como disse antes... cada dia melhor! =)
Bom te ver, sempre (e sempre te ver)!
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